Saindo do Casulo: Meus 33 Anos e a Redescoberta de Mim Mesmo
Aos 33 anos, celebro um ano de casa própria e compartilho minha jornada de perdas, perrengues e descobertas. Uma reflexão íntima sobre amadurecimento, conquistas silenciosas e o valor de ter um lugar para chamar de lar.

A metamorfose acontece agora
Faz um tempo que venho me descobrindo uma nova pessoa. É como se estivesse saindo do casulo, saindo da fase de minhoca para uma nova versão de mim mesmo, ainda nesta vida. Talvez seja o peso dos 33 anos que faz a gente repensar o estilo de vida, rever valores, se refazer no palco da vida — mesmo sem plateia.
O que a pandemia fez com a gente?
O que aconteceu com a gente depois da pandemia? Será que ela revolucionou a sociedade de forma irreversível? Será que convivendo com a geração Z, absorvemos, por osmose, um novo jeito de existir? Ainda não sei as respostas, mas essas perguntas têm habitado meu cérebro como pássaros ansiosos pela luz do dia.
Um novo testamento pessoal
Hoje, compartilho com você um marco simbólico: completei um ano morando no meu próprio apartamento. Uma conquista imensa. Ainda me surpreendo com a dificuldade que sinto em comemorar, em gritar ao mundo que eu venci. Talvez seja medo do olhar alheio, talvez seja o peso da modéstia. Mas por que temos vergonha de celebrar o que conquistamos com tanto suor?
Vitória com gosto de memória
Minha mãe viveu 50 anos e, mesmo sendo uma guerreira, não teve a chance de chamar um lugar de seu. Eu consegui. Com 33 anos, conquistei a casa própria. Isso não é pouco. É muito. É tudo.
Mas antes de chegar até aqui, passei por perrengues. Após perder meus pais para a COVID-19 em 2020, morei em uma casa alugada, da minha tia, onde descobri que parentes dividiam o terreno comigo sem pagar pelas contas que eu, sozinho, bancava. Percebi que não teria paz ali. Vendi o carro, peguei todo o dinheiro que tinha e investi num imóvel na planta. Foi a decisão mais certeira da minha vida.
Dois anos de aprendizado a dois
Enquanto o apartamento não ficava pronto, morei por dois anos com um amigo, dividindo um AP. Dividir as contas era bom. Dividir o espaço, nem tanto. Convivência é um espelho cruel. Filho único, eu sofri para entender o tempo e o espaço do outro. Ele, num momento de deslumbramento com o dinheiro. Eu, já no modo planejamento e cautela do futuro. Como dizia Sartre: o inferno são os outros — e a convivência nos escancara isso.
Enfim, um lar com o meu nome
Hoje, escrevo de um lugar que é meu. É libertador. Posso deitar minha cabeça no travesseiro e dormir em paz. Mas, ao mesmo tempo, sinto uma leve culpa por querer gritar aos quatro ventos que estou feliz. A vida adulta nos dá presentes, mas também boletos que surgem como fantasmas a cada virada de mês. E mesmo assim, sigo quitando tudo como posso, fazendo algumas pedalas financeiras aqui e acolá.
O preço da felicidade
Talvez eu esteja mais distante dos meus amigos nos últimos tempos, mas eu estou passando por uma fase que meu foco total é investir nesse imóvel que comprei. Cara, a vida não é tão fácil quando você não nasce em berço de ouro, quando você não tem papai e nem mamãe para te ajudar. Talvez eu esteja mais introspectivo com o povo, mas eu estando em casa já estou gastando muito, imagine eu saindo na rua. Dezembro, eu sai para um bar para comemorar o aniversário de uma grande amiga e eu ainda achando que estou vivendo na vida de esbanjar acabei desperdiçando 400 reais em uma única noite, 400 reais que eu poderia ter comprado uma Air Fryer nova, mas não comprei, e isso é dose. Mas, sinceramente? Comprar esse apartamento foi o maior presente que já me dei. Em 30 anos, ele será quitado (é chão daqui até lá). Mas hoje, ele já é um lar. Já é meu porto seguro. E ter isso já vale qualquer preço.
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